domingo, 16 de novembro de 2008

Sol Poente

Um fim de tarde que invade o espírito e desafia a consciência.
Um frio leve, um vento discreto atiçando esta luz descensa incendiária e...boa companhia. Tudo conspirando e servindo de pretexto para muitas ideias e entre elas... mais uma vez...
Como me entristece que cada vez mais as pessoas teimem em atribuir mais valor e força àquilo que é quebrantável só por ser visível e menosprezem o que, emboram não materializado fisicamente ou não alcançável, pode ser mais forte e inquebrável que muitas forças e muitos dias!?... Mais uma vez...
Recuso-me profunda e terminantemente a compactuar com isso!
Sophia

sábado, 15 de novembro de 2008

Lisboa Revisitada II: Sobre Telhados

A meio caminho das íngremes subidas das suas colinas, das suas calçadas incessante e impossivelmente mais inclinadas a cada passo, dos seus empedrados toscamente calcetados e, para o ponto de equilíbrio de qualquer corpo, desafiadoramente desnivelados pelo peso dos anos e dos carros. A um meio mal medido de tudo isto, sobre boa parte dos telhados de traça antiga, cuidada ou nem por isso, renovada ou não, com retoques de modernidade ou com a sua malha original realçada, a espaços, com manchas de verde meticulosamente plantadas e tratadas, à guarda de honra de um afável gigante de azul cintilante no final de tarde, sob um céu quase límpido, apenas salpicado por esparsas, pequenas nuvens, altas e claras.
Assim digo, Lisboa, mais uma vez!
Sophia

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Lisboa Revisitada I: No 1º andar a contar do céu!

«Digo: "Lisboa"
Quando venho do Sul e atravesso o rio
E a cidade abre-se como se nascesse do seu nome
Abre-se e ergue-se na sua vastidão nocturna
Em seu longo luzir de azul e rio
Em seu corpo amontoado de colinas
(...)
Porque digo
Lisboa com seu nome de ser e não ser
Com os seus meandros de espanto, insónia e lata
E o seu rebrilhar de teatro
Seu conivente sorrir de intriga e máscara
Enquanto o largo mar a Ocidente se dilata
Lisboa oscilando como uma grande barca
Lisboa cruelmente construída ao longo da sua própria ausência.»
(Sophia de Mello Breyner)
E eu digo: "Lisboa", quando venho de norte ao longo da margem do rio e a cidade se ergue na sua imensidão de todas as horas. Abre-se e encerra-se sobre mim, absorve-me, envolve-me, perde-me, entranha-me com as suas raízes, no correr das suas águas cor de prata e das suas colinas desafiando as alturas. Porque digo: Lisboa com seu nome de presente e passado. Com seus recantos de surpresa, de íngremes subidas e descidas, de rebocos de outras vidas e recentes tintas de esmalte. E seu reluzir de luz atlântica e mediterrânica. Seu espraiar de riqueza de tempos idos e pobreza de todos os tempos. Enquanto rio e oceano a abraçam, Lisboa oscilando como um grande ramo de árvore ao vento. Lisboa construída por sonhos, reconstruída sobre estacas de madeira, construtora de sorrisos...
Sophia